Depois de meses de rumores, a União Ciclística Internacional (UCI) confirmou oficialmente: as rodas de 32 polegadas estão liberadas para uso em competições de mountain bike. A decisão, comunicada ao site britânico Mountain Bike Action (MBA), põe fim a semanas de incerteza e abre caminho para uma nova fase de evolução tecnológica na modalidade.

Do laboratório à trilha: as 32” deixam de ser protótipos

    Os primeiros sinais dessa revolução apareceram durante a Copa do Mundo de Andorra, em 2025, quando o francês Titouan Carod foi flagrado treinando com uma bicicleta BMC equipada com rodas de 32 polegadas. Embora o protótipo não tenha sido usado em competição, a simples aparição bastou para provocar discussões em todo o setor.
    Desde então, marcas como Bike Ahead, Specialized e Canyon vêm desenvolvendo quadros e componentes compatíveis com o novo padrão, buscando maximizar a eficiência de rolamento e a estabilidade sem sacrificar a agilidade — um equilíbrio desafiador.

UCI confirma: “O MTB é o laboratório do ciclismo”

    Em resposta ao MBA, Fabrice Tiano, gerente sênior de comunicações da UCI, explicou o posicionamento da entidade:
“A comissão de mountain bike sempre considerou a modalidade como o laboratório do ciclismo, com regras muito mais flexíveis em relação ao equipamento. Por isso, as rodas de 32 polegadas não estarão proibidas.”
    Com isso, a UCI reafirma o caráter experimental do MTB, o mesmo princípio que permitiu, no passado, avanços como o uso de suspensões dianteiras e traseiras, transmissões eletrônicas e quadros em fibra de carbono.

O que muda com as rodas de 32 polegadas

    A introdução das 32” promete alterar significativamente a forma como as bicicletas se comportam.
  • De modo geral, rodas maiores proporcionam:
    • Maior capacidade de rolagem: ultrapassam obstáculos com mais facilidade, mantendo a velocidade em terrenos irregulares.
    • Mais tração e estabilidade: devido ao maior contato do pneu com o solo e ao ângulo de ataque mais suave.
    • Melhor desempenho em retas e subidas longas: a inércia extra mantém a cadência e o equilíbrio, favorecendo a constância.
  • Por outro lado, há desvantagens técnicas importantes:
    • Aceleração mais lenta: a massa adicional das rodas aumenta a inércia, exigindo mais potência para arrancadas e retomadas.
    • Maior peso total do conjunto: mesmo com materiais leves, o diâmetro ampliado demanda mais material em aros e pneus.
    • Redução da agilidade em trilhas técnicas: curvas fechadas e mudanças rápidas de direção podem ficar menos precisas.
    Em termos de geometria, o desafio será adaptar chainstays (bases traseiras) e ângulos de direção para manter o equilíbrio entre estabilidade e manobrabilidade. Isso pode resultar em bicicletas ligeiramente mais longas e com centro de gravidade ajustado.

Comparativo técnico: 29” x 32”


Característica Rodas 29" Rodas 32" Diferença esperada
Peso médio do conjunto 2,0–2,3 kg 2,3–2,6 kg +300 g a +500 g
Inércia (aceleração) Rápida Mais lenta Menos ágil em arrancadas
Rolagem e estabilidade Excelente Superior Melhor em longas retas e descidas
Tração Boa Muito boa Maior contato com o solo
Agilidade técnica Alta Média Exige técnica refinada
Altura ideal do ciclista 1,65 m a 1,90 m 1,80 m ou mais Melhor para atletas altos
Terreno ideal Técnico e variado Rápido e compacto Ideal para XCM e pistas fluidas

    Na prática, o desempenho das 32” deve favorecer circuitos rápidos e menos técnicos, como os do Cross-Country Marathon (XCM). Já no Cross-Country Olímpico (XCO), que exige explosões curtas e manobras frequentes, a adoção pode ser mais lenta.

Mistura de tamanhos? Ainda não

    Apesar das especulações sobre o uso de rodas mistas (32” na frente e 29” atrás) — combinação já testada no downhill —, a UCI reforçou que a configuração não será permitida no cross-country, sendo válida apenas para disciplinas onde o regulamento especifica tolerância de diâmetros diferentes.

História que se repete

    O surgimento das 32” remete à transformação vivida pelo MTB há cerca de 20 anos, quando as rodas de 29 polegadas substituíram as antigas 26”. Na época, o ganho em eficiência de rolagem e controle se sobrepôs ao aumento de peso, e hoje o formato 29er domina o cenário mundial.
    Será que o mesmo acontecerá com as 32”? Ainda é cedo para dizer, mas especialistas acreditam que o novo padrão deve ganhar espaço entre ciclistas altos e nas provas de longa distância.

O que esperar para 2026

    Com a liberação oficial, espera-se que as primeiras bikes de 32” entrem em cena na temporada 2026 da Copa do Mundo de MTB. As equipes de fábrica devem aproveitar o início do ano para testar geometrias e ajustes de suspensão, enquanto fabricantes de pneus e rodas correm para desenvolver linhas comerciais compatíveis.
    Se o desempenho for positivo, a transição poderá ocorrer mais rápido do que se imagina — repetindo o que aconteceu com as 29”.
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Fonte: https://br.brujulabike.com/a-uci-da-luz-verde-rodas-32-o-mtb-e-o-laboratorio-do-ciclismo/