Nos últimos dias, uma sugestão polêmica tomou conta das redes sociais: cobrar ingresso para que o público tenha acesso aos trechos finais das etapas do Tour de France. A ideia, levantada pelo ex-ciclista Jérôme Pineau durante um podcast, se espalhou rapidamente e reacendeu o debate sobre a monetização do ciclismo. A repercussão foi tão grande que a própria ASO, organizadora da prova, precisou se manifestar para desmentir qualquer intenção nesse sentido.
ASO nega planos de cobrança e reforça tradição do Tour
O argumento de que o ciclismo não alcança maior expressão por não vender ingressos é antigo. No entanto, uma das razões do enorme apelo popular do esporte sempre foi justamente o acesso gratuito: qualquer pessoa pode caminhar até a beira da estrada e ver de perto seus ídolos, mesmo que por alguns segundos — atletas capazes de façanhas quase sobre-humanas.
Apesar disso, a busca por novas formas de monetização não poupa nem o ciclismo. Durante o último Tour de France, Richard Plugge, diretor da Visma–Lease a Bike, chegou a comentar que uma possível solução para reduzir riscos nos trechos finais seria cobrar pelo acesso, limitando assim o número de espectadores.
Essa declaração passou quase despercebida. Porém, quando Pineau levantou a mesma ideia recentemente — “Vamos fechar os últimos cinco quilômetros, privatizar! Cobrar ingresso! Criar áreas VIP! Vamos fazer disso um negócio!” — a reação do público foi imediata. Em plena pré-temporada, quando as notícias são escassas, o tema viralizou rapidamente.
UCI e ASO reagem: cobrança está “completamente descartada”
O primeiro a responder foi o presidente da UCI, David Lappartient. Ele se posicionou contra qualquer tipo de cobrança, destacando que a medida seria extremamente impopular, especialmente entre os franceses. Para muitos, o Tour de France não é apenas uma corrida — é um patrimônio cultural nacional.
Lappartient chegou a comparar a possível reação dos torcedores a episódios de grande tensão social na França, como os protestos dos "coletes amarelos" ou as manifestações contra mudanças na aposentadoria.
Logo depois, a ASO tratou de encerrar o assunto. Um dos subdiretores da entidade afirmou de forma categórica:
“O ciclismo é gratuito por definição. A venda de ingressos está totalmente descartada.”
Mas em outras modalidades do ciclismo… o ingresso já existe
A defesa enfática do Tour contrasta com outros segmentos do esporte. No ciclocross, especialmente na Bélgica, o público paga ingresso para acessar os circuitos. Lá, a modalidade tem um peso cultural semelhante ao futebol em outros países, e cada prova se transforma em um grande evento, com estrutura de entretenimento além da competição.
Situação parecida ocorre nas clássicas flamengas. Há anos, a Flanders Classics comercializa espaços VIP em pontos estratégicos, como o lendário Oude Kwaremont — onde os ciclistas passam até três vezes no Tour de Flandres e onde, muitas vezes, a corrida é decidida. Essas áreas oferecem festa, música, cerveja e visão privilegiada da prova.
Ciclismo gratuito: tradição, cultura e identidade
Apesar de exemplos em outras modalidades e países, o Tour de France permanece como o símbolo máximo de um esporte que se orgulha da proximidade com o público. A estrada aberta, a festa popular e a gratuidade fazem parte da identidade do ciclismo de estrada — e, ao menos por enquanto, nada disso deve mudar.
-Fonte: https://br.brujulabike.com/o-ciclismo-e-gratuito-a-contundente-resposta-aos-que-propoem-cobrar-ver-o-tour-ao-vivo/

