O final de cada temporada costuma ser um período de tensão no ciclismo profissional, mas o desfecho de 2025 tem se mostrado especialmente complicado. Com o encerramento de equipes e fusões inesperadas no pelotão WorldTour, diversos campeões, ex-vencedores de grandes voltas e nomes de destaque ainda estão sem contrato para 2026 — um número que chama atenção até mesmo entre os agentes e dirigentes mais experientes.

    Segundo dados divulgados por veículos especializados europeus, 94 ciclistas da categoria WorldTour seguem sem equipe confirmada para a próxima temporada, um recorde recente que reflete um mercado instável e mais competitivo do que nunca.


Fusões e cortes afetam o mercado

    O cenário foi fortemente influenciado por mudanças estruturais. O desaparecimento da Arkéa–B&B Hotels e a fusão entre Lotto–Dstny e Intermarché–Wanty reduziram significativamente o número de vagas disponíveis entre as principais equipes do pelotão.

    Essas reestruturações, embora estratégicas do ponto de vista financeiro e técnico, deixaram dezenas de atletas de alto nível sem espaço, incluindo ciclistas experientes e campeões mundiais.


Nomes de peso ainda sem destino

    Entre os atletas de maior destaque que seguem sem equipe está o polonês Michal Kwiatkowski, campeão mundial em 2014 e um dos mais completos ciclistas de sua geração. Após dez temporadas na estrutura Sky/INEOS Grenadiers, Kwiatkowski, de 35 anos, busca uma nova oportunidade no pelotão, em um momento da carreira em que ainda demonstra capacidade para atuar como gregário de luxo ou caçador de clássicas.

    Outro caso notável é o do equatoriano Richard Carapaz, campeão olímpico e vencedor do Giro d’Italia de 2019. Depois de um início promissor em 2025, sua temporada desandou por causa de uma infecção que o tirou do Tour de France e da Vuelta a España. Carapaz encerrou o ano longe do desempenho habitual, e o contrato com a EF Education–EasyPost não foi renovado.

    Mesmo assim, fontes próximas ao atleta indicam que negociações estão em andamento com equipes interessadas em seu perfil de liderança, especialmente voltadas para o Giro e as clássicas de montanha italianas.


Girmay e a incerteza pós-fusão

    Outro nome em destaque é o do eritreu Biniam Girmay, estrela africana em ascensão, que se viu no meio do turbilhão causado pela fusão entre Lotto e Intermarché.
    O novo projeto da Lotto parece não ter mantido as condições contratuais acertadas anteriormente com o velocista, que agora analisa alternativas em outras equipes WorldTour e até em formações ProTeams com maior liberdade de calendário.

    A expectativa é de que Girmay feche um novo contrato ainda em novembro, possivelmente com uma equipe que valorize sua versatilidade em provas de um dia.


Froome e o fim de uma era

    Na contramão, a situação de Chris Froome parece caminhar para um desfecho inevitável.
Após temporadas sem resultados expressivos pela Israel–Premier Tech, o britânico — quatro vezes vencedor do Tour de France — continua insistindo na intenção de seguir ativo, mas nenhuma equipe de alto nível demonstra interesse concreto.

    Aos 40 anos, Froome pode até buscar oportunidades em projetos continentais ou de desenvolvimento, mas é provável que o ciclista esteja se aproximando da aposentadoria, marcando o fim de uma das carreiras mais vitoriosas da história recente.


Outros ciclistas sem contrato

    Além dos grandes nomes, a lista dos 94 ciclistas sem equipe para 2026 inclui vários latino-americanos e europeus de destaque:

  • Jefferson Cepeda (Equador)

  • Esteban Chaves (Colômbia)

  • Hugh Carthy (Reino Unido)

  • Brandon Rivera (Colômbia)

  • Ben Swift (Reino Unido)

    Esses atletas enfrentam o desafio adicional de um mercado saturado, em que as equipes priorizam jovens talentos vindos das categorias sub-23 e projetos de desenvolvimento com custos mais baixos.


Análise técnica: o que explica o inchaço no mercado?

    De acordo com analistas do ciclismo europeu, há três fatores principais por trás desse “engarrafamento contratual” no WorldTour:

  1. Reestruturações financeiras:
    O aumento de custos de operação (principalmente com logística e viagens intercontinentais) faz com que muitas equipes reduzam o número de ciclistas por orçamento.

  2. Mudança de perfil das equipes:
    A aposta em jovens de 19 a 22 anos — mais baratos e com alto potencial de evolução — substitui veteranos que, embora experientes, têm salários altos e retorno de marketing limitado.

  3. Nova política da UCI:
    A UCI vem discutindo um limite salarial flexível e maior controle sobre o número de inscritos por equipe, o que deve entrar em vigor até 2027.
    Isso já leva as equipes a planejar elencos mais enxutos e estratégicos para as próximas temporadas.


Perspectivas para 2026

    O mercado de transferências deve continuar agitado até o fim de dezembro.
Especialistas preveem que parte desses ciclistas assinará acordos de última hora com equipes ProTeams, enquanto outros podem optar por mudanças de foco, como o gravel profissional ou o ciclismo por seleções nacionais em provas pontuais.

    Seja como for, o final de 2025 marca uma transição clara no ciclismo mundial — com uma nova geração tomando espaço, enquanto grandes nomes do passado recente buscam uma última chance para permanecer no pelotão de elite.

    Por enquanto, o mercado segue aberto e imprevisível — um reflexo da transformação que o ciclismo profissional atravessa rumo a uma era mais tecnológica, seletiva e voltada ao desempenho jovem.
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Fonte: https://br.brujulabike.com/grandes-nomes-ainda-sem-equipe-2026/