O agente de ciclismo Alex Carera, responsável pela agência A&J All Sports e representante de estrelas como Tadej Pogacar, Biniam Girmay e Jasper Philipsen, fez um alerta contundente sobre o futuro do ciclismo profissional. Em entrevista ao portal Cyclism’Actu, o empresário afirmou que o modelo atual da União Ciclística Internacional (UCI) ameaça a sustentabilidade das equipes ProTeam, que formam a base de desenvolvimento da modalidade.
“Se a base enfraquecer, tudo desmorona. As ProTeams são o alicerce do ciclismo. Se um dia restarem apenas cinco, será quase impossível ver novas equipes surgirem e chegarem ao WorldTour. É matemática simples”, afirmou Carera.
WorldTeams dominam, ProTeams desaparecem
Segundo Carera, o sistema atual favorece em excesso as equipes WorldTour, que participam em praticamente todas as grandes corridas e também em provas menores, impedindo que as equipes de segundo escalão tenham espaço para crescer e conquistar visibilidade.
O agente cita o desaparecimento de equipes tradicionais e as recentes fusões e encerramentos (como o caso da Arkéa e da integração entre Lotto e Intermarché) como sinais claros de que o modelo está se tornando insustentável.
“Se as melhores equipes do mundo participarem de todas as corridas, acabam dominando também as provas menores. Isso destrói o ecossistema. Cinco equipes vencendo 250 corridas por temporada não é saudável”, alertou.
Um apelo à UCI por reformas urgentes
Carera defende que a UCI implemente mudanças estruturais imediatas, criando uma liga ProTeam com calendário próprio e regras claras de participação, o que permitiria atrair patrocinadores e equilibrar o ranking internacional.
“Não precisamos esperar até 2026 — será tarde demais. 2027 deve ser o ano de transição, e o trabalho tem de começar agora”, destacou.
O empresário argumenta que, atualmente, há patrocinadores dispostos a investir de €3 a €5 milhões, mas que o retorno e a visibilidade são insuficientes se a equipe não tiver acesso regular a corridas relevantes.
“Esses investidores precisam de garantias, de um calendário coerente e de chances reais de aparecer. Sem isso, o ciclo de crescimento se quebra”, completou.
Um sistema que desestimula novos projetos
O agente cita exemplos de equipes como Alpecin-Deceuninck e Uno-X Mobility, que conseguiram evoluir até o WorldTour, mas ressalta que o modelo atual dificulta o surgimento de novas estruturas competitivas.
“Projetos como o da Tudor Pro Cycling mostram que há interesse e capacidade, mas falta um sistema que ofereça estabilidade e perspectivas reais. Hoje, só o calendário WorldTour é realmente previsível”, disse.
Não é uma crítica à UAE Team Emirates
Carera faz questão de deixar claro que suas declarações não são um ataque direto às grandes equipes, como a UAE Team Emirates, que representa Pogacar.
“Dizer que sou contra a UAE é ridículo. Ganhar o Tour de France, a Paris–Roubaix ou o Campeonato Mundial é essencial para uma grande equipe. O problema é que essas mesmas equipes também vencem as corridas menores, tirando o espaço de quem precisa crescer.”
O que está em jogo no debate entre WorldTeams e ProTeams
🔹 O modelo atual da UCI
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As 18 equipes WorldTour têm prioridade e direito automático de participação nas principais provas do calendário internacional.
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As ProTeams (segunda divisão) dependem de convites (wild cards) para competir em grandes eventos.
🔹 O problema
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Com as WorldTeams entrando em todas as corridas — inclusive menores —, as ProTeams perdem espaço, visibilidade e oportunidades de pontuar no ranking.
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O resultado é a redução de patrocinadores e, em alguns casos, o colapso financeiro de projetos médios.
🔹 A proposta de Carera
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Criar uma liga ProTeam independente, com calendário próprio e número fixo de dias de corrida.
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Estabelecer regras de limitação de presença das WorldTeams em determinadas provas menores.
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Oferecer incentivos financeiros e estruturais para novos projetos entrarem no circuito profissional.
🔹 Por que isso importa
A sustentabilidade das equipes médias é o que garante a formação de novos talentos.
Sem ProTeams, o ciclismo corre o risco de se tornar um circuito fechado, onde apenas as grandes estruturas sobrevivem — e o futuro dos jovens ciclistas fica comprometido.
Em resumo: o alerta de Alex Carera é mais do que um aviso — é um chamado urgente para repensar o equilíbrio econômico e competitivo do ciclismo mundial.
Se a UCI não agir rapidamente, o esporte pode perder justamente aquilo que o faz crescer: a diversidade de equipes e o caminho natural de formação de campeões.
Fonte: https://www.goride.pt/agende-de-pogacar-faz-serio-aviso-se-a-uci-nao-mudar-o-ciclismo-estara-em-risco/
