A última grande volta do ano não tocará o sul da península, partindo de Turim e tendo subidas como o Angliru e a Bola del Mundo, isto se os incêndios e os protestos deixarem. Tudo o que não seja um triunfo de Jonas Vingegaard terá toques de surpresa, mas João Almeida, que afasta polémicas com o co-líder de equipa, Juan Ayuso, revela moderado otimismo após a fratura numa costela. Num momento difícil para o ciclismo espanhol, o pelotão surge desfalcado.
No império de Tadej, o sol também se põe, ainda que poucas vezes. Ele irradia luz da Suíça, onde se vestiu de arco-íris, a Paris, palco de nova consagração amarela, vai da Flandres ao Canadá, chega até ao Ruanda, peculiar palco dos Mundiais do fim de setembro. Mas o brilho precisa de descanso.
Pogačar até chegou a ter a Vuelta 2025 no seu calendário. É a única das três maiores corridas por etapas que ainda não venceu, mas o cansaço que evidenciou no final do Tour tornou esperada a decisão de não estar em Turim, onde dar-se-á o tiro de partida para 21 etapas e 3.185,9 quilómetros que desaguarão em Madrid, concluindo a 80.ª edição de uma prova que celebra o 90.º aniversário — não se disputou durante a guerra civil espanhola e teve uma pausa no começo dos anos 50, antes de se consolidar como parceira das congéneres francesa e italiana no topo da modalidade.
Desta forma, a derradeira das competições de três semanas materializará algo que muitos lesados de Pogi desejarão ao longo do ano. Uma vida sem o ditador, um mundo sem o extraterrestre das 104 vitórias desde 2019, um espaço de oportunidade.
No império de Tadej, o sol também se põe, ainda que poucas vezes. Ele irradia luz da Suíça, onde se vestiu de arco-íris, a Paris, palco de nova consagração amarela, vai da Flandres ao Canadá, chega até ao Ruanda, peculiar palco dos Mundiais do fim de setembro. Mas o brilho precisa de descanso.
Pogačar até chegou a ter a Vuelta 2025 no seu calendário. É a única das três maiores corridas por etapas que ainda não venceu, mas o cansaço que evidenciou no final do Tour tornou esperada a decisão de não estar em Turim, onde dar-se-á o tiro de partida para 21 etapas e 3.185,9 quilómetros que desaguarão em Madrid, concluindo a 80.ª edição de uma prova que celebra o 90.º aniversário — não se disputou durante a guerra civil espanhola e teve uma pausa no começo dos anos 50, antes de se consolidar como parceira das congéneres francesa e italiana no topo da modalidade.
Desta forma, a derradeira das competições de três semanas materializará algo que muitos lesados de Pogi desejarão ao longo do ano. Uma vida sem o ditador, um mundo sem o extraterrestre das 104 vitórias desde 2019, um espaço de oportunidade.
Bem, sem 'o' extraterrestre, mas, ainda assim, com alguma vida vinda de outros mundos. Jonas Vingegaard, descrito por João Almeida como "um dos extraterrestres desta geração", estará presente e, num elenco que também não conta com Evenepoel, Van der Poel, Van Aert ou Roglič, é a figura maior do pelotão.
Sem a força do esloveno em clássicas, Jonas precisa de vitórias condizentes com a sua qualidade. Somente ganhou duas vezes em 2024, valor bem inferior às seis de Juan Ayuso e às nove de João Almeida, as maiores ameaças ao grande favorito.
O contrarrelógio de João
"Acho que aspirar à vitória acaba por não ser 100% realista, tendo em conta que há um Jonas Vingegaard." João Almeida é visto por quase toda a imprensa especializada como o segundo principal candidato a ganhar a Vuelta, mas as palavras do caldense à agência Lusa ilustram a sensação de que na Visma mora quem viva noutro planeta. A presença de Sepp Kuss, gregário de luxo que ganhou a competição espanhola em 2023, e Matteo Jorgenson na equipa de Vingegaard ainda acentuam mais a teórica superioridade do dinamarquês.
"Vim aqui para vencer a Vuelta, isso é claro. É o meu objetivo", comentou o dinamarquês da Visma. Triunfador do Tour em 2022 e 2023, os últimos meses de Jonas foram marcados pela frustração de, correndo a um grande nível, sendo muito melhor que todos os que não eram um esloveno com tufos de cabelo saindo pelo capacete, ter sido invariavelmente batido pelo imperador.Pode parecer estranho recordá-lo agora, mas, no final de 2023, Pogačar estava numa situação que, em termos de grandes voltas, possuía algumas semelhanças com o contexto presente do escandinavo. Superado duas vezes seguidas por Vingegaard no Tour, Pogi decidiu ir ao Giro 2024 para recuperar confiança em três semanas e engordar o palmarés. Seguiram-se duas subidas ao lugar mais alto do pódio nos Campos Elísios.
Sem a força do esloveno em clássicas, Jonas precisa de vitórias condizentes com a sua qualidade. Somente ganhou duas vezes em 2024, valor bem inferior às seis de Juan Ayuso e às nove de João Almeida, as maiores ameaças ao grande favorito.
O contrarrelógio de João
"Acho que aspirar à vitória acaba por não ser 100% realista, tendo em conta que há um Jonas Vingegaard." João Almeida é visto por quase toda a imprensa especializada como o segundo principal candidato a ganhar a Vuelta, mas as palavras do caldense à agência Lusa ilustram a sensação de que na Visma mora quem viva noutro planeta. A presença de Sepp Kuss, gregário de luxo que ganhou a competição espanhola em 2023, e Matteo Jorgenson na equipa de Vingegaard ainda acentuam mais a teórica superioridade do dinamarquês.
O percurso da Vuelta tem a dureza do costume, com muitas chegadas ao alto e destaque total para o norte de Espanha. O sul, nesta edição, fica totalmente de fora do traçado.
Em termos de montanha, o primeiro grande teste será na sexta tirada, em Andorra, casa de muitos ciclistas, desde logo de João Almeida. A dupla jornada a meio da Vuelta, com o mítico Angliru na 13.ª etapa e Farrapona na 14.ª, promete marcar a luta pela camisa vermelha.
No entanto, é preciso colocar um asterisco em boa parte do percurso. Os incêndios que assolam Portugal também são protagonistas indesejados do outro lado da fronteira e vários pontos da Vuelta, particularmente na Galiza e na Cantábria, lidam, atualmente, com fogos que poderão levar a mudanças no traçado.
A penúltima etapa também poderá ser alterada. Trata-se da muito dura ascensão à Bola del Mundo, uma zona protegida desde 2013, o que leva a que a última visita da Vuelta tenha sido em 2012. Pelo "forte impacto" da presença humana no cume a 1.852 metros de altitude, associações ecologistas, alegando a preservação da biodiversidade, têm protestado, pedindo que a organização cancele a parte final da subida, colocando a meta uns quilómetros mais abaixo.
Em momento de crise para o ciclismo espanhol, o défice de qualidade vê-se por Ayuso ser o único homem do país anfitrião com legítimas aspirações à licra vermelha e pela Movistar, a equipe World Tour espanhola, apresentar um conjunto de remendos, sonhando com caçar uma ou outra etapa para salvar a honra.
O pelotão da Vuelta é, aliás, o menos destacado das últimas edições. Com um grande fosso entre Vingegaard, os líderes da Emirates e o resto, haverá atenções depositadas em Giulio Ciccone, o espetacular trepador italiano que parece gostar mais de camisolas da montanha do que correr pela geral, ou em Giulio Pellizzari, outro talento transalpino. Ainda há Jai Hindley, vencedor do Giro 2022 que não tem encontrado esse nível. E Felix Gall vem de um grande Tour, não surpreenderia que lutasse pelo pódio, enquanto Egan Bernal, lambendo as feridas do acidente que o deixou a vida em risco, procurará confirmar a boa imagem que deixou na passada corsa rosa. Antonio Tiberi quererá ser mais consistente e Mikel Landa tentará agarrar os fiéis do landismo com fugas e acelerações longe da meta.
Com algumas ausências de última hora (Carapaz, Gee, Mas), que contribuíram para esta sensação de orfandade de referências, as chegadas mais rápidas deverão ficar entre Jasper Philipsen e o versátil Mads Pedersen. Numa corrida historicamente amiga do talento jovem, atenção a Léo Bisiaux (20 anos), mais uma promessa vinda da entusiasmante nova vaga do ciclismo francês.
Em termos de montanha, o primeiro grande teste será na sexta tirada, em Andorra, casa de muitos ciclistas, desde logo de João Almeida. A dupla jornada a meio da Vuelta, com o mítico Angliru na 13.ª etapa e Farrapona na 14.ª, promete marcar a luta pela camisa vermelha.
No entanto, é preciso colocar um asterisco em boa parte do percurso. Os incêndios que assolam Portugal também são protagonistas indesejados do outro lado da fronteira e vários pontos da Vuelta, particularmente na Galiza e na Cantábria, lidam, atualmente, com fogos que poderão levar a mudanças no traçado.
A penúltima etapa também poderá ser alterada. Trata-se da muito dura ascensão à Bola del Mundo, uma zona protegida desde 2013, o que leva a que a última visita da Vuelta tenha sido em 2012. Pelo "forte impacto" da presença humana no cume a 1.852 metros de altitude, associações ecologistas, alegando a preservação da biodiversidade, têm protestado, pedindo que a organização cancele a parte final da subida, colocando a meta uns quilómetros mais abaixo.
Em momento de crise para o ciclismo espanhol, o défice de qualidade vê-se por Ayuso ser o único homem do país anfitrião com legítimas aspirações à licra vermelha e pela Movistar, a equipe World Tour espanhola, apresentar um conjunto de remendos, sonhando com caçar uma ou outra etapa para salvar a honra.
O pelotão da Vuelta é, aliás, o menos destacado das últimas edições. Com um grande fosso entre Vingegaard, os líderes da Emirates e o resto, haverá atenções depositadas em Giulio Ciccone, o espetacular trepador italiano que parece gostar mais de camisolas da montanha do que correr pela geral, ou em Giulio Pellizzari, outro talento transalpino. Ainda há Jai Hindley, vencedor do Giro 2022 que não tem encontrado esse nível. E Felix Gall vem de um grande Tour, não surpreenderia que lutasse pelo pódio, enquanto Egan Bernal, lambendo as feridas do acidente que o deixou a vida em risco, procurará confirmar a boa imagem que deixou na passada corsa rosa. Antonio Tiberi quererá ser mais consistente e Mikel Landa tentará agarrar os fiéis do landismo com fugas e acelerações longe da meta.
Com algumas ausências de última hora (Carapaz, Gee, Mas), que contribuíram para esta sensação de orfandade de referências, as chegadas mais rápidas deverão ficar entre Jasper Philipsen e o versátil Mads Pedersen. Numa corrida historicamente amiga do talento jovem, atenção a Léo Bisiaux (20 anos), mais uma promessa vinda da entusiasmante nova vaga do ciclismo francês.
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