E foi aí que Pogacar se arrependeu de ter forçado ao longo de toda etapa - o talento é indesmentível, mas o esloveno sairá desta Volta a França seguramente um ciclista mais cínico, com outra experiência. Não conseguiu nunca acompanhar Vingegaard, que lhe ganhou três minutos, roubando-lhe de permeio a camisola amarela.
Esta quinta-feira, o ciclista da UAE Emirates tinha desde já uma oportunidade para vingança, e vingança poderia até estar entre aspas porque ele próprio falou dela, já despojado do símbolo de líder da Volta a França, pouco depois de cruzar a linha de meta, de bofes de fora, no Col de Granon. Pogacar elogiou “a tática” da Jumbo-Visma, assumiu as dificuldades na subida final. Lembrou que o Tour ainda não acabou. Até porque horas depois havia Alpe d’Huez para escalar.
O Alpe d’Huez é matéria de lendas e heróis, Joaquim Agostinho ganhou ali nome em França, e parecia claro que, estando bem, o esloveno atacaria. E tentou um par de vezes nas 21 curvas da subida, depois de uma primeira parte de tirada bastante calma para os candidatos à geral. Sempre bem escudado pela Jumbo-Visma, Jonas Vingegaard saiu do registo "faca nos dentes" para vestir o fato de gestor: a vantagem de mais de dois minutos que tem para Pogacar na geral permite-lhe já olhar apenas de soslaio para o rival, controlar o duas vezes campeão do Tour, sem necessidade de grandes riscos. E sempre que Pogacar tentou surpreender, o dinamarquês estava lá para responder, aparentemente fresco que nem uma alface. De tal forma que, às tantas, Pogacar pareceu até resignado. Talvez já ensinado pelo caos da véspera. Percebeu que não era ali, naquela escalada mítica, que ia devolver a gracinha, que ia cortar a diferença. A falta de equipa notou-se e este Tour poderá mesmo marcar o fim da ideia pré-concebida que Tadej Pogacar é tão forte que é capaz até de ganhar uma grande volta sozinho.
Pidcock chegou isolado na meta do Alpe d'Huez (Foto: GUILLAUME HORCAJUELO/EPA) |
Uma vitória que ficará bem catita ao lado de outras que este especialista em outras montanhas (neste caso, nas bicicletas de montanha) tem no currículo: é o atual campeão olímpico de ciclocross.
Na geral, o Alpe d’Huez não fez as diferenças na geral que se esperariam, depois das cambalhotas da véspera. Apenas o último lugar do pódio tem novo dono, com Geraint Thomas (INEOS) a subir a terceiro, por troca com o francês Romain Bardet (Team DSM). E no final, Pogacar voltou a assumir o fracasso da véspera, muito duro consigo próprio: "Eu sei o que se passou ontem [quarta-feira]. Foram muitos ataques e eu fui um bocado estúpido por tentar seguir toda a gente. Não vai acontecer de novo".
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