A população mundial está pedalando mais. No Brasil, o fenômeno também acontece, movimento que foi acelerado pela pandemia, mas que começou antes mesmo dela. Vários indicadores comprovam o fato: alta anual nas vendas de bicicletas, inclusive das elétricas, aumento na extensão de ciclofaixas e ciclovias, maior participação da bike como meio de transporte, além do surgimento de novos serviços, como estacionamentos e seguros para bikes, consultorias especializadas, entre outros.
Com novos ciclistas indo às ruas todos os dias, surgem dúvidas e desafios de todos os tipos. “Quando saímos da lógica dos automóveis, ainda predominante, e passamos a pensar do ponto de vista da bicicleta, a diferença é muito grande. Desde que percurso fazer até como se portar na rua em relação aos semáforos e às demais bicicletas que seguem pela ciclofaixa, por exemplo. Entender suas limitações e conhecer o ambiente é fundamental”, explica Henrique Beckmann, especialista em fluidez segura e criador do projeto Você Ciclista, que inclui treinamentos, consultoria para a escolha do melhor modelo de bike e até a publicação de guias informativos.
Autoconhecimento
Segundo o especialista, é importante que os novatos, especialmente quem pedala nos grandes centros, treinem até que adquiram confiança e habilidade para assumir novos desafios, como passar a usar a bike em seus compromissos diários, como ir ao trabalho ou à escola. Para ajudar nessa tarefa, fizemos um passo a passo com dicas para quem está decidido a incluir a bicicleta e seus benefícios cada vez mais no seu dia a dia. “Antes de tudo, é fundamental segurar a ansiedade e fazer tudo com calma. Pular etapas pode resultar em frustração e prejuízo”, recomenda Beckmann.Economia da bicicleta
4 milhões de unidades de bicicletas são produzidas ao ano no Brasil, nos posicionando na quarta posição no mundo;15.777 bicicletas elétricas foram vendidas no Brasil entre janeiro e junho de 2020, um crescimento de 28% em relação ao mesmo período do ano anterior;
503,6 km é a extensão atual da malha cicloviária da cidade de São Paulo, sendo 473,3 km de ciclovias e ciclofaixas e 30,3 km de ciclorrotas;
Dicas para quem quer subir de nível com sua bike
Preparamos um check-list para ajudar quem quer passar a usar seu equipamento com mais intensidade, como para ir ao trabalho ou escolaSegurança em primeiro lugar
Se antigamente era comum as pessoas não usarem capacete para andar de bike, hoje é bom que os ciclistas se conscientizem de que os tempos mudaram, felizmente. “O capacete não é item obrigatório pela legislação de trânsito, mas ele é extremamente útil, pois pode salvar a vida no caso de uma batida na cabeça em uma queda, assim como ao passar por buraco ou pista escorregadia”, diz Henrique Beckmann, especialista em fluidez segura e criador do projeto Você Ciclista. De acordo com o Artigo 105, do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), os itens obrigatórios a quem pedala são: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho retrovisor no lado esquerdo.Entenda o seu perfil
Para quem tem uma bicicleta usada, antes de sair correndo até uma loja para a compra de modelo novo, uma sugestão de Beckmann é começar a treinar com ela. Segundo ele, isso vai ajudar o ciclista a saber como está sua condição física e resistência e, principalmente, o que agrada ou incomoda nesse modelo. Também é importante entender, nesse período, o uso que se pretende fazer do modal: pretende ir à escola ou ao trabalho diariamente? Ou só vai utilizar nos finais de semana, mas em trilhas um pouco mais pesadas que as que costuma fazer? São muitas possibilidades de uso e alguns ciclistas podem querer todos esses objetivos juntos. “E sempre existe um modelo que irá atender à necessidade. Com o objetivo definido, o ciclista deve traçar um plano de como chegar lá e começar a dar os próximos passos”, aconselha.Entenda seu ambiente
Nesse processo de fortalecimento da confiança de quem pedala, é importante escolher bem as vias. “Minha sugestão é percorrer locais conhecidos dos ciclistas e menos movimentados, como nos finais de semana, e ir evoluindo para dias com tráfego mais intenso”, diz o especialista. Caso não haja ruas ou avenidas seguras nos arredores, ele recomenda pegar o carro e procurar por essas regiões mais calmas. “E é fundamental respeitar algumas regras básicas, como não parar bruscamente, se precisar virar, tentar avisar quem vem atrás e nunca pedalar ao lado de outra bicicleta”, recomenda. Ele lembra que, para ter bom desempenho ao pedalar, é preciso estar totalmente confortável, sem dores. “Para a posição correta, o ciclista, sentado na bike, estica a perna em direção ao chão e seu joelho precisa ficar levemente flexionado”, ensina.Prova de fogo
Para passar de fase, o especialista explica que é fundamental que o ciclista esteja seguro e consiga desempenhar, sem esforço, as seguintes tarefas: frear com segurança; pedalar em linha reta, sem fazer zigue-zague; trocar marchas no momento certo, sem que o câmbio faça barulho; ser capaz de olhar para trás sem desequilibrar; e segurar o guidão com apenas uma das mãos, deixando a outra livre para sinalizar que vai virar, por exemplo. “Esses passos são muito importantes para que se possa intensificar o uso do equipamento. Se estiver fazendo tudo isso sem esforço, pode pensar em dar o próximo passo”, diz.Bike ideal
Percorridas todas essas etapas, chegou a hora de buscar a bicicleta correta. Além de definido o uso que o ciclista irá fazer do modelo, é importante observar características como geometria e tamanho do quadro de acordo com o biotipo da pessoa. “Comprar uma bike do tamanho errado, um erro comum, causa dores nas costas, entre outras. A pessoa terá que trocar o quadro, o que é caro e, muitas vezes, não dá certo”, explica. Outro aspecto que precisa ser observado: a altura do cavalo. “Não basta observar a estatura, é preciso checar o cavalo”, diz. Com tantos modelos disponíveis no mercado, é fácil ficar confuso. “Todas as marcas disponibilizam especificações técnicas, mas processar tudo e entender qual é a bike ideal é uma tarefa que pode ser difícil. Procurar ajuda profissional ou de alguém mais experiente nessa área pode ser muito útil. E evita jogar dinheiro fora”, aconselha.Estreando
Antes de ir ao trabalho ou à escola pela primeira vez, o ciclista deve planejar qual é o melhor trajeto para seu destino. Beckmann conta que o Google Maps tem opção para bikes, mas é preciso ficar atento porque pode haver erros. Antes de ir ao compromisso ‘pra valer’, faça o caminho em um sábado ou domingo, como teste. “Isso é importante para que a pessoa vá se familiarizando, entenda o tempo de viagem ou até substitua uma via do percurso se for o caso”, ensina.Dia D
Quando chegar o tão esperado dia, o especialista recomenda estimar o dobro do tempo que o ciclista levou no final de semana para fazer o trajeto. E é importante, também, não se esquecer de planejar antes onde irá deixar a bicicleta. “Dificilmente, a pessoa vai levar todo esse tempo, mas é bom para dar segurança e tranquilidade. E para ter tempo de ir ao banheiro ou vestiário para se recompor quando chegar ao destino”, explica. “Com tudo certo, não se esqueça de aproveitar a viagem e curtir a cidade com sua bike. E se algum dia ficar com preguiça de ir de bicicleta, tudo bem, porque essa experiência precisa ser prazerosa”, finaliza.Livro traz panorama do modal nos grandes centros
Diversas experiências de metrópoles brasileiras e cidades globais onde a cultura e o uso da bicicleta se mantêm fortes foram reunidas no livro Bicicletas nas Cidades – Experiências de compartilhamento, diversidade e tecnologia, que acaba de ser lançado pela Relicário Edições. Subdividido em eixos que endereçam temas como diversidade, tecnologia, acessibilidade, meio ambiente e saúde, uma equipe de dezenas de especialistas em ciclomobilidade, entre brasileiros estrangeiros, apresentam estudos de caso, números, relatos, análises com dados do setor.Sistemas de compartilhamento de bicicletas também são analisados, assim como desafios como financiamento, variáveis culturais e climáticas, além de questões como saúde pública e qualidade de vida são abordados. A obra conta com organização de Victor Andrade e Letícia Quintanilha, do Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB), parceria do Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Programa de pós-graduação em Urbanismo (UFRJ), além do apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – (Faperj). O livro tem 280 páginas e tem preço sugerido de R$ 55,00.
Livro: Bicicletas nas Cidades – Experiências de compartilhamento, diversidade e tecnologia
Editora: Relicário Edições
Organizadores: Victor Andrade e Letícia Quintanilha
Preço: R$ 55,00
Onde comprar: Relicário Edições, Amazon, Blooks, Livraria da Travessa, Magazine Luiza e Submarino.
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