O incômodo pela forma como tudo aconteceu fez Jaqueline, 43, natural de Belo Horizonte, deixar de lado uma companheira de décadas.
"Não queria nem olhar para a bike, estava de mal dela. Fiquei muito triste e magoada, eu tinha mais de 50% dos pontos que eram necessários. Decidiram que uma disputa interna deveria acontecer do zero, aquilo me afetou muito, era um ano em que eu poderia estar tendo outras prioridades. Tive que sair do circuito internacional para competir dentro do Brasil", recorda.
Depois disso, seu foco no mundo esportivo de alto rendimento foi na neve. Residindo no Canadá, Jaque aproveitou a realidade de temperaturas abaixo de zero para dedicar ao esqui cross country e também ao biathlon. Foi por estas modalidades que ela reencontrou a paixão por tentar ir além, representando o Brasil em quatro edições das Olimpíadas de Inverno. Foi desta forma que Jaque chegou a seis participações olímpicas, uma recordista de participações entre atletas ao lado da jogadora de futebol Formiga.
"Aquilo supriu minha necessidade de competir, foi algo muito importante na minha carreira. O tempo passou e as cicatrizes por tudo que havia acontecido fizeram com que a mountain bike recuperasse na mente e do coração da mineira um espaço que se mostrava apagado.
"Eu sempre pensava no que poderia ter acontecido se eu tivesse continuado. Pedalar é algo tão prazeroso e eu queria saber como seria se eu voltasse. Comecei a treinar, inicialmente, em bikes na neve. Quando o inverno foi embora, voltei a fazer trilhas", lembra.No ano passado, no final de fevereiro, ela resolveu testar em que nível se encontrava participando de competições na América do Norte, terminando provas na sétima e quarta posição. Ao ir bem, em menos de um mês, ela conseguiu vaga para disputar etapas da Copa do Mundo.
Um dos resultados que mais a motivaram foi a conquista do Campeonato Brasileiro da modalidade, chegando na frente de Raiza Goulão e Letícia Cândido, dois dos maiores nomes do país, que foram descobertas justamente em um projeto de Jaque, em 2011.
"Estar em uma Copa do Mundo foi um sentimento diferente, largando na última fila, sem ranking nenhum e tendo outro tipo de sensação. Da posição 500, fui pra 40ª", conta. "Em todas as provas, fui por conta própria, sem ajuda financeira de ninguém", relata.O (re) despertar de todos os sentimentos que a bike proporciona fizeram Jaque retomar a convivência com a magrela, que voltará a estar presente por mais tempo em 2019. No dia 10 de março, ela estará em Petrópolis para a disputa da 1ª etapa da Copa Internacional Levorin de Mountain Bike.
Mesmo depois de dez anos, e vendo o ciclismo feminino do Brasil evoluir bastante, Jaque ainda não teve superada sua melhor colocação no ranking internacional, quando chegou à oitava posição no ranking internacional.
"Uma das maiores diferenças é que, agora, existem muitos obstáculos artificiais e ainda estou me acostumando a isso", observa. Tanto tempo depois, as mudanças foram muito além das características das pistas. "Antes eu não podia, de forma alguma, dar entrevista na linha de largada, sempre com os nervos à flor da pele. Hoje estou mais madura e isso me ajudou muito. O esqui cross country me ajudou a ser mais forte, tenho mais potência e meus pontos fortes foram trabalhados", comemora.
Pupilas como concorrentes
Na linha de largada do Campeonato Brasileiro, Jaque esteve perfilada ao lado de duas pupilas: Raíza Goulão, que vem crescendo a cada ano dentro do cenário internacional e também de Letícia Cândido."Foi muito legal reencontrá-las, mas também um pouco estranho, uma experiência interessante. O mountain bike feminino cresceu do Brasil cresceu demais neste período e elas são responsáveis por isso. Estávamos competindo, mas o carinho sempre esteve presente, o companheirismo também. É muito bom ver a evolução delas", aponta.A presença de Jaque pode contribuiu para o Brasil ter mais representantes na Olimpíada de Tóquio, uma vez que o número de atletas de cada país vai de acordo com a pontuação das atletas.
"Acho que minha volta pode acrescentar muito, estou me sinto forte, mesmo com 43 anos. Enquanto estiver motivada, vou buscar a excelência. No que puder ajudar, seja com experiência, com dicas, opiniões ou pontos de vista, estou aí", afirma.
Marca mineira como nova apoiadora
A motivação que Jaque demonstrou e todos os percalços superados fez a Sense apostar no seu talento para patrociná-la em 2019. "É uma empresa mineira que tem muito a ver comigo, tem essa história da resiliência, de abrir portas pro mundo. É a realização de um sonho fazer parte desta equipe, sempre tive patrocinadores individuais, e essa é a primeira vez que faço parte de uma equipe de verdade", agradece. Para contar sua história para novos talentos, Jaque está prestes a publicar um livro infantil inspirado na sua trajetória esportiva."Quero estimular as crianças a sonharem, para que cada um siga seu caminho. A ideia é compartilhar e contar o caminho de uma menina que sempre quis seguir o pôr do sol", ensina a atleta e mais nova escritora.-
Fonte: https://www.otempo.com.br/superfc/outros/jaque-mour%C3%A3o-volta-ao-mundo-da-bike-1.2090317
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