. Com modelos que custam de R$ 3 mil a até R$ 70 mil ─ o dobro de um carro popular ─, o segmento de bicicletas "premium" está avançando rapidamente no Brasil, segundo fabricantes e associações do setor.
"Nos últimos cinco anos, as vendas de bikes de mais de R$ 3 mil aumentaram pelo menos 100%", diz Marcelo Maciel, Presidente da Aliança Bike, a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, para quem essa é uma das áreas mais promissoras do mercado de bicicletas.
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Trek Emonda SL SLR 10 H1 que custa R$ 70.000,00 |
"Nossas vendas desse segmento premium devem ter crescido em média 20% ao ano nos últimos 5 anos." completa Luiz. A Trek opera no Brasil há cerca de um ano e é dela o modelo de R$ 70 mil, uma espécie de Ferrari das bikes.
. Segundo a fabricante, o preço alto se justifica pela qualidade dos materiais ─ trata-se, segundo a Trek, de uma das bicicletas mais leves do mundo (4,6 kg) e de um modelo de altíssima performance.
"Também damos garantia ilimitada para nossos modelos. O que quer dizer que se, décadas depois de ter comprado a bicicleta, o cliente descobrir um problema de fábrica, fazemos a troca", diz Praça.. Para se ter uma base de comparação, os modelos mais simples de bicicleta podem custar de R$ 300 a R$ 600.
. Praça admite que, em 2014, a estagnação econômica fez cair o número de unidades vendidas.
"Mas isso foi compensado pelo fato de o valor médio das bicicletas comercializadas ter crescido. Além disso, atribuímos tal queda a Copa e Eleições - em 2015 esperamos ter uma retomada das vendas em unidades."Até as montadoras de carro estão de olho no filão das bikes premium.
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Bicicleta Dobravel Land Rover |
. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Bicicleta (Abraciclo), José Eduardo Gonçalves, o aumento do valor agregado das bicicletas é o que tem segurado o faturamento do setor como um todo.
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BMW All Mountain |
. De 1994 a 2013, as vendas de bicicleta passaram de 6 milhões de unidades para 4,3 milhões. E para 2014, embora os dados ainda não estejam fechados, a Abraciclo estima uma queda adicional de 10%.
Causas
"Ao longo dos anos as bicicletas perderam espaço para os carros e as motocicletas, mas por outro lado estamos vendendo bicicletas cada vez melhores, de maior valor agregado", diz Gonçalves.
. Segundo as associações do setor, a expansão do segmento de bicicletas premium é impulsionada por vários fatores.
"Um dos principais deles talvez seja o aumento na renda dos brasileiros, que tem permitido que mais pessoas possam investir em uma bicicleta um pouco melhor", opina Gonçalves..Outro fator importante seria o fato de a indústria ter incorporado novas tecnologias e avançado na provisão de produtos mais sofisticados e que atendem a demandas específicas.
"Mesmo essas bicicletas mais caras são relativamente acessíveis se comparadas a um carro, por exemplo."
.Entre os modelos que se encaixam nesse segmento premium estão, por exemplo, as bicicletas elétricas e as dobráveis.
. Também há os modelos levíssimos, feitos com materiais como titânio ou carbono, e aqueles que prometem aumentar a performance de quem participa de competições como esportista ou amador.
. Para Maciel, da Aliança Bike, o vigor do mercado de superbikes também pode ser explicado pela expansão das ciclofaixas nas grandes cidades, o apelo do estilo de vida saudável e sustentável e o aumento da popularidade da bike como opção de esporte e lazer.
"As pessoas estão comprando bicicleta para usar, não para pendurar na garagem", diz Maciel.
"E tanto quem está começando a usar a bicicleta como meio de transporte quanto quem está adotando a bicicleta como opção de esporte e lazer está se dando conta de que vale a pena pagar mais para ter um produto de melhor qualidade e resistência."
Vale a pena?
. Para a cicloativista Renata Falzoni, porém, nem sempre vale a pena comprar uma bike premium.
"Quem pedala, quer pedalar coisa boa - e há muitos modelos que são caros porque têm muita tecnologia e oferecem conforto e performance. Mas também há bikes que custam muito por causa da marca, ou por terem um design estiloso", diz ela.. Para o fotógrafo Gabriel Cabral, o grande inconveniente de se comprar uma superbike é o risco de ela ser roubada.
"Além disso, é preciso pensar no custo-benefício da compra. Você não precisa de uma bicicleta de altíssima performance se não for competir, por exemplo."
"A questão é que se você compra uma bicicleta muito cara, não pode parar em qualquer lugar - tem uma preocupação a mais", opina.. Ciclista e apaixonado por bicicletas, Cabral foi roubado duas vezes e resolveu que vai investir o mínimo possível em sua bike.
"É claro que há uma diferença entre uma bicicleta de R$ 500 e uma de R$ 1.200", diz ele.
"A primeira pode ter peças importantes de plástico, pode ser que o pedal caia - enfim, é aquela bicicleta que as pessoas compram para usar pouco e que acaba enferrujando na garagem do prédio. Mas dá para ter uma ótima bike por menos de R$ 2 mil", opina.
Roubos
. O medo de roubo tem impulsionado também um incipiente ─ mas promissor ─ mercado de seguros para o setor.
. A Brasil Insurance, por exemplo, oferece seguros contra roubos de bicicletas desde 2008, mas foi nos últimos dois anos que a procura pelo produto explodiu.
. Ana Badaró, diretora comercial da empresa, diz que o número de apólices cresceu de 300, em 2012, para 2 mil, em 2014.
. A empresa faz seguro de bicicletas que valem mais de R$ 3 mil e o valor médio das magrelas asseguradas seria de R$ 15 mil.
"Só do último ano para cá, o aumento no número de contratos foi de 50% e para o ano que vem esperamos uma alta de 30% a 40%", diz Badaró.. Leonardo Ferraz, da Neptunia Seguros, experimentou um crescimento semelhante da procura por seguros de bicicletas. "A alta foi da ordem de 50% nos últimos dois anos", diz.
. Badaró conta que há até mesmo clientes que preferem segurar a bicicleta a segurar o carro.
"Em geral esses são parte do grupo de apaixonados por bikes, que têm carros que valem pouco ou que usam pouco", diz.