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Rodas mágicas: Aos 48 anos, o suíço Hans Rey mostra por que ainda é um mago da bike

http://fstatic1.mtb-news.de/f/ce/mu/cemuwyukh1u9/large_Hans-Rey-India-Mtb-116.jpg?0. HANS JÖRG REY decidiu dar ouvidos a sua bicicleta. A magrela estava ali no canto da garagem, parada exatamente como a que você tem em casa, gritando em silêncio para um passeio: “Só um pouco de diversão, vai...”. Hans não só atendeu ao pedido como dedicou toda a vida a reinventar, diariamente, o sentido de pedalar. Reconhecido mundialmente como o mestre do freeride e do bike trial, duas modalidades em que foi pioneiro, Hans parece enfeitiçar cada bicicleta em que coloca as mãos. Aos 48 anos, o suíço está mais na ativa que nunca, testando seus limites e servindo de inspiração para a nova geração de mágicos das duas rodas.
. Sua mais recente aventura, no último mês de junho, foi bem ao seu estilo: montanhas inexploradas, trechos técnicos de assustar muito mountain biker experiente e tempo livre para criar truques incríveis.
http://i.vimeocdn.com/video/484039358_640.jpg. O cenário: a Córsega, uma ilha francesa no Mediterrâneo, próxima a Itália. A companhia: o belga Kenny Belaey, de 32 anos, maior vencedor da história (com quatro títulos) do mundial de bike trial – a modalidade mais performática do ciclismo, em que o atleta se destaca pelo equilíbrio entre obstáculos e pelas manobras, sem colocar o pé no chão, geralmente usando uma bicicleta de rodas com aros 20, 24 ou 26.
 “Pedalar acompanhado sempre ajuda a expandir nossos limites”, diz Hans, depois de se arriscar em beiras de precipício e de botar para baixo em downhills onde ninguém havia sequer pensado em pedalar.
 “Como eu e Hans temos a mesma paixão, foi fácil nos entendermos bem. O trial se tornou um esporte de alto rendimento, mas para conquistar um obstáculo você ainda precisa ser criativo como um artista”, completa Kenny. E disso Hans entende como poucos.
http://www.vimff.org/archive/www.vimff.org/Images05/No%20Way%20Hans%20Rey%201.jpg
. Para quem nunca o viu em ação basta dizer que o cara é tricampeão mundial de trial e integrante, desde 1999, do Hall da Fama do Mountain Bike (uma seleta lista de grandes nomes desse esporte escolhidos pelo Museu do Mountain Bike, que fica no Colorado). Recentemente, a revista norte-americana Bike Magazine deu a Hans o título de o “melhor mountain biker de todos os tempos”. Seus filmes, ainda em VHS, inspiraram as duas últimas gerações de ciclistas “circenses”, bem antes dos XGames e da internet existirem. Mas foi nos rolês em estilo livre que ele virou o mundo da bike do avesso. Manobras pioneiras, performances em cachoeiras e sua inconfundível deslizada em paredes, quase na horizontal, acabaram se tornando marcas registradas, puxando a fila de bikers extremos pelo mundo.
“Eu queria levar minhas habilidades do trial para longe das competições e foi aí que comecei a pedalar em cachoeiras, vulcões, glaciares e cenários urbanos”, conta Hans. 
. Ele passou, então, a levar sua bicicleta para lugares improváveis, como as pirâmides do Egito, as trilhas incas do Peru e algumas montanhas inóspitas do Quênia, Alpes e Himalaia. No embalo desses feitos, Hans foi percebendo que as rodas da sua bike poderiam girar do jeito que ele quisesse – não apenas nas manobras. Desde então, o suíço escreve suas próprias regras.
“Foi uma evolução natural para mim, pois sempre quis aplicar meu conhecimento em situações reais. Passei a procurar um significado para minhas viagens, uma história para ser descoberta e depois compartilhada. Com isso, comecei a enxergar o mundo sob outra perspectiva”, explica.
. Essa mistura excêntrica de talento, ousadia e exploração acabou dando certo. Abriu portas e marcou o terreno de Hans pelo mundo.
“Gosto da ideia de me enxergar como um ‘Indiana Jones’ da bike. Em vez do cavalo, pedalo para lugares remotos e, muitas vezes, misteriosos. Sempre gostei de explorar trilhas e locais considerados impossíveis.”
http://autobus.cyclingnews.com/photos/2006/interviews/hans_rey/Hans-Rey83alt.jpg. Desvendar o mundo (e a si mesmo) é uma característica primária de Hans. Nascido na Suíça, terra de seu pai, ele foi criado na Alemanha, mas morou a maior parte da vida na Califórnia, nos EUA. Foi na Alemanha que Hans teve o primeiro contato com o trial, em 1978, quatro anos depois da estreia do Bicycle Trials, um evento pioneiro da modalidade – diferentemente do mountain bike e do BMX, o trial surgiu na Europa.



“Era um esporte puramente amador, praticado por adolescentes. Na Alemanha nós adaptávamos bike de BMX, o que nos dava fluidez nos rolês, mas nos limitava quando queríamos brincar entre obstáculos”, relembra. Enquanto isso, espanhois como Ot Pi, reconhecido como um dos inventores do trial, já faziam algumas acrobacias em bikes mais ariscas e menos “pedaláveis.” “Eu não estava exatamente no começo de tudo, mas eu vivi o primeiro boom da modalidade”, diz Hans. Quando a brincadeira chegou aos EUA, na década de 80, acabou se misturando com as descobertas e experimentações do início do mountain bike e tudo começou a se popularizar.
. A época também marcou a explosão do freeride, movimento oposto à onda competitiva, no qual bikers se testam em trilhas (nem sempre demarcadas) e se destacam por feitos no estilo livre, registrando tudo em fotos e vídeos. Naquele tempo, Hans era presença certa no Laguna Rads, um dos mais antigos clubes de mountain bike do mundo e que ainda está na ativa: “Eles realmente preservam o espírito original do MTB até hoje
http://fstatic1.mtb-news.de/img/photos/1/3/_/large/HansRey.jpg?0. Nós costumávamos andar toda quarta-feira por trilhas duras e técnicas. No fim, nos reuníamos para comer tacos e beber cerveja. Os Rads me tornaram um verdadeiro mountain biker e me ajudaram a ter uma carreira longa, mantendo vivo meu espírito aventureiro”.
. Foi nos Estados Unidos que Hans deslanchou e ganhou seu apelido: Hans “No Way” Rey. “Quando pisei nos EUA pela primeira vez, em 1987, o trial era um esporte desconhecido, então as pessoas ficavam surpresas com o que eu fazia. Cada vez que alguém falava ‘sem chance’ [no way, em inglês], eu ia lá, tentava e conseguia.”
. Depois de assistir, ainda criança, a uma apresentação de Hans no Canadá, o biker Ryan Leech, hoje com 35 anos, procurou seguir seus passos. Hoje um dos destaques do bike trial mundial, ele aprendeu com Hans uma grande lição: “Ele me mostrou que sempre há uma chance e um caminho a seguir se você for apaixonado pelo que faz e trabalhar duro”. Ryan participou de expedições com o próprio Hans e outras feras atuais do esporte, entre elas o escocês Danny MacAskill, a quem Hans define como “o cara que elevou a modalidade a outro nível”.

. Em uma de suas mais inusitadas viagens, Hans esteve no Brasil, em 2001, pedalando por São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
http://www.praquempedala.com.br/blog/wp-content/uploads/2012/09/mountain-bike-hansrey.jpg. Uma foto de Hans pedalando em uma mureta ao pé do Cristo Redentor se tornou capa de sua biografia, A Life of Mountain Bike Adventures (sem edição no Brasil). “Hans é realmente um artista da bicicleta. Fez com a bike o que ninguém imaginava que poderia ser feito”, afirma o mountain biker brasileiro Bob Nogueira, anfitrião do suíço na expedição no país.
. HANS FOI FUNDO de verdade e acabou encontrado no ciclismo uma filosofia de vida: “O trial e o freeride são muito técnicos e isso exige tempo, dedicação e experiência. Mas a maioria das pessoas não tem paciência: elas querem sucesso instantâneo. Por isso, a bike pode ser muito útil para ensinar sobre você mesmo e seus limites, além de foco, concentração, controle do corpo e da mente. É uma forma perfeita de meditação”. Além de promover seus feitos e viagens, de ajudar na criação de produtos e divulgar a GT, marca que o acompanha desde o início da carreira profissional, o suíço-alemão-americano se dedica a sua ONG “Whells4Life”, que doa bikes em lugares remotos e carentes.


“Eu continuo buscando novos destinos que unam desafio e diversão – agora com uma dose de filantropia também. Mas tem que ser para valer mesmo, não quero ficar apenas posando para foto”, brinca. Fora das trilhas, gosta de praticar esqui, stand-up paddle, trekking e futebol. Para cada tipo de rolê, tem sua bike preferida: são dez modelos prontos para o uso em sua garagem, ao lado de outros 15 quadros antigos. “Eu ainda guardo bicicletas históricas, mas já não tenho todas. Um colecionador na Suíça comprou 20 bikes minhas. Acredito que eu possua outras dez espalhadas pelo mundo na casa de amigos e familiares.” Hans pode ficar tranquilo, pois cada uma delas já teve seus desejos atendidos. Ele sabe do que essas magrelas gostam. 
Bikes para a vida
Criada por Hans Rey, a ONG Whells 4 Life prova que a bicicleta pode mudar o mundo
. Em 2005, o suíço Hans Rey decidiu criar a ONG Whells 4 Life (Rodas para a Vida). Dirigida em parceria com sua mulher, Carmen, a organização doa bicicletas para jovens, crianças e trabalhadores rurais de regiões de extrema pobreza. “Temos apoios e doações em vários lugares do mundo, com isso já conseguimos entregar mais de seis mil bikes em 25 países diferentes”, diz Hans. Saiba como colaborar e fazer sua parte em whells4life.org.
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