Cruzei o Rubicão para poder atravessar o Nilo. Em janeiro de 2013, embarco para aquela que certamente será a grande aventura da minha vida: cruzar o continente africano, de ponta a ponta, sobre duas rodas.
Anualmente, um grupo de ciclistas de diferentes nacionalidades percorre uma jornada de bicicleta pelo coração da África em uma das aventuras mais emocionantes do mundo do ciclismo. É o Tour d´Afrique(Tour da África), evento que, em 10 edições, já reuniu cerca de 400 ciclistas de mais de 20 países.
Até hoje, no entanto, nenhum brasileiro participou dessa expedição. Com inscrição confirmada e passagens compradas, serei o primeiro representante da bandeira verde e amarela e o primeiro ciclista latino-americano a fazer parte dessa jornada épica.
Serão 4 meses de pedaladas, aventuras e descobertas. A partida será no dia 11/01/2013 na Cidade do Cairo, Egito, e a chegada prevista para o dia 11/05/2013, na Cidade do Cabo, África do Sul. A expedição percorrerá 10 países -- Egito, Sudão, Etiópia, Quênia, Tanzânia, Malauí, Moçambique, Zâmbia, Zimbábue, Botsuana, Namíbia e África do Sul – totalizando quase 12 mil quilômetros. Uma média de quase 120 quilômetros por dia de pedal.
A jornada percorrerá, de bicicleta, ao longo dos últimos templos antigos do Nilo, atravessando o deserto do Sudão, recortando as paisagens bíblicas da Etiópia e as acidentadas montanhas de Simian. Depois de cruzar a linha do Equador, no Quênia, a pedalada passará pelo lendário Monte Kilimanjaro, pelo o Lago Malauí, nas Victoria Falls e ao longo das bordas do magnífico Kalahari, dos desertos da Namíbia, terminando na magnífica Cidade do Cabo, no extremo Sul do continente.
Além da paisagem, há também a beleza das pessoas. O contato com as comunidades e tribos de diferentes etnias ao longo do trajeto. E a camaradagem com outros cilistas, de diferentes partes do mundo, que também estarão lá pedalando por um sonho.
O evento tem como objetivos atravessar a África com uso da energia humana para promover a consciência sobre a bicicleta como um meio alternativo e adequado de transporte.
Além disso, o Tour d´Afrique também busca levantar fundos para doações de bicicletas para comunidades na África, com apoio de grupos de desenvolvimento além de ser um evento esportivo único e uma experiência ímpar para ciclistas amadores e profissionais.
O Tour d´Afrique é organizado por uma empresa canadense, que promove expedições transcontinentais na América, África, Ásia e Europa.
A expedição africana, iniciada em 2002, é o evento pioneiro e que dá nome à empresa. O evento incorpora duas modalidades simultâneas – o tour propriamente dito, que não tem caráter competitivo – e o race challenge (corrida), em que os participantes vão acumulando pontos ao longo das etapas naquela que é considerada a competição ciclística de maior distância em todo o planeta.
Sonho 3 em 1
Há cerca de três anos descobri a existência do Tour d´Afrique enquanto navegava em sites sobre cicloturismo na internet. Desde então, realizar essa jornada tornou-se, mais que um sonho, um grande objetivo.
O desejo de conhecer a África vem desde a infância, quando minha mãe me presenteava com fascículos da Enciclopédia Geográfica Universal. Os livros de capa verde, publicados semanalmente pela Editora Globo nos idos de 1995, ajudaram a despertar meu interesse pela geografia, geopolítica, países, bandeiras, história e culturas do continente negro.
Não à toa, naquela época, minhas melhores notas na escola eram sempre em Geografia e, não raro, um 9 ou 10 no boletim ajudava a aplacar, ao menos em partes, as cobranças e castigos em função das notas vermelhas em Matemática.
Esse interesse pelas coisas do mundo e a ânsia de descobrir e explorar novos horizontes (ainda que pelos livros), mais tarde, tiveram importância fundamental na minha decisão de ter o jornalismo como profissão.
Participar do Tour d´Afrique será a chance de realizar um grande sonho. Aliás, o único sonho capaz de aliar três das minhas grandes paixões: o jornalismo, as bicicletas e a África.
Riscos envolvidos
Quando conto sobre o projeto para alguém, a primeira pergunta que me fazem é: “Não é perigoso?”. E a resposta é simples: sim, é perigoso. Tanto que, uma dos primeiros avisos na seção de tira dúvidas no site do tour os organizadores deixam claro: “Muitas das áreas percorridas não aderem às mesmas normas de segurança comuns nos países ocidentais. Os passeios costumam viajar por terras onde pode haver instabilidade política ou econômica e pode haver riscos envolvidos. Não se junte a um de nossos tours a menos que você esteja preparado para aceitar esses riscos”.
Claro, logo em seguida eles fazem questão de explicar que uma equipe vai monitorando a questão interna dos países do trajeto para evitar áreas de conflitos deflagrados. Ainda assim, o TDA passará por cidades como Luxor (Egito) e Cartum (Sudão), que já foram palcos de violentos conflitos étnicos ou atentados promovidos por extremistas islâmicos.
É arriscado? Até que é. Mas não deixa de ser empolgante e de remeter às aventuras de Tintin, o jovem repórter que é um dos meus personagens de desenho animado favoritos.
Detalhes
As próximas semanas serão decisivas para acertar todos os detalhes – vistos, equipamentos, acessórios, logística, etc. Toda essa jornada épica e os detalhes da expedição serão relatados aqui no blog Ir e Vir de Bike. Logicamente, as reportagens não serão restritas à questão do Tour d´Afrique e da expedição ciclística.
A cobertura especial possibilitará, durante quatro meses, revelar aspectos geográficos, políticos, econômicos, ambientais, humanos e sociais do continente africano.
Todas essas questões serão detalhadas a partir de agora aqui no blog. A ansiedade, os preparativos, as descobertas e emoções de cada pedalada. Vamos juntos. A aventura só está começando...
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(Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/blog/irevirdebike/?id=1317753&tit=ir-e-vir-de-bike-na-africa:-uma-expedicao-no-continente-mais-fascinante-do-planeta)
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