--_Com pouco alarde e sem muito público, foi dada a largada na manhã
desta quarta-feira, na Barra da Tijuca, para o Tour do Rio, maior
competição de ciclismo da América Latina. Durante cinco dias, os
ciclistas vão percorrer 800 km pelo estado do Rio de Janeiro em busca de
R$ 200 mil de premiação, um incentivo importantíssimo para um esporte
que, segundo os próprios atletas, recebe muito pouco incentivo.
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>> "Hoje em dia a elite do ciclismo nacional recebe um salário muito
baixo. Os esportes individuais do Brasil são pouco valorizados. Só se
pensa no futebol. Esta mentalidade se reflete na Olimpíada. Voltamos de
lá de Londres com pouquíssimas medalhas e muita frustração na bagagem",
afirma Otávio Bulgarelli, atual campeão brasileiro de ciclismo de rua.
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--_Otávio é um dos poucos ciclistas que disputam a prova que
conseguiram começar na modalidade ainda cedo. "Com 13 anos eu já estava
nas minhas primeiras competições", conta o campineiro de 27 anos. Mas
faltou maior incentivo. "Sempre precisei da ajuda do meu pai, que foi
muito importante. Senão eu não seria ciclista mesmo hoje em dia",
explica ele, que pertence a uma das equipes mais tradicionais do
ciclismo brasileiro, o time de Pindamonhangaba, no interior paulista.
--_Realidade mais difícil ainda teve o atual líder do circuito
nacional Fabiele Mota, 31 anos, e o irmão Fabiano, 34. Naturais de São
João da Barra, interior do Rio de Janeiro, os dois só conheceram o
ciclismo muito tarde, aos 18 anos. Antes, precisaram trabalhar como
pedreiros na construção civil para ganhar a vida.
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>> "Podíamos hoje estar numa situação melhor se tivéssemos começado
mais cedo. Quem sabe poder viver a realidade de fazer parte de uma
equipe europeia", lamenta Fabiele.
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--_Os ciclistas fluminenses lembram que o ciclismo foi uma das
modalidades que catapultou o sucesso da Grã-Bretanha na última
Olimpíada. O esporte distribui 54 medalhas nas suas quatro modalidades
(pista, estrada, BMX e mountain bike) e os britânicos levaram nove no
ciclismo de pista e três no de estrada ¿ 8 delas de ouro. A atuação
rendeu ao país a inédita terceira colocação no quadro geral de medalhas.
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>> "Lá é bem diferente. Além de eles terem uma cultura ciclística
muito maior, as crianças já começam a praticar o ciclismo na escola. Bem
cedo a confederação de ciclismo já está nos colégios fazendo
avaliações, mostrando o esporte e vendo quem tem potencial para ser um
futuro campeão", explica Fabiele.
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--_Os irmãos acreditam que é tarde demais para o Brasil investir
pensando em uma performance parecida à dos ingleses na Olimpíada do Rio
em 2016. Mas ainda dá tempo de crescer e surpreender pelo menos
figurando em algum pódio olímpico.
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>> "O Brasil não tem condição de começar
a investir agora e fazer frente às maiores potências como Inglaterra e
Espanha. Mas é possível beliscar alguma coisa e fazer a melhor
participação em uma Olimpíada.
>> É só investir", diz Fabiano, que se
considera um afortunado pela condição que tem. "A gente até nem pode
reclamar tanto que, mesmo tendo começado tarde no esporte, porque ainda
assim hoje somos uma referência do circuito nacional. Mas realmente tem
muito talento sendo perdido por aí".
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--_O Tour do Rio conta com a participação de 114 atletas. São 19
equipes, 10 brasileiras e nove de fora do país, que disputarão a volta
ciclística, que passará por cinco cidades fluminenses: a capital, Angra
dos Reis, Volta Redonda, Três Rios e Teresópolis. A chegada está marcada
para domingo na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, centro do Rio de
Janeiro.
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Fonte: TERRA
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